Do Evangelho Segundo o Espiritismo. Capitulo XIII
QUE A MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O QUE FAZ A DIREITA
Instruções dos Espiritos
A piedade
MICHEL
Bordeaux, 1862.
A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos.
É a irmã da caridade que vos conduz para Deus.
Ah! Deixai vosso coração enternece-se diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes.
Vossas lágrimas são um bálsamo que derramais nas suas feridas. E quando, tocados por uma doce simpatia, conseguis restituir-lhes a esperança e a resignação, que ventura experimentais?
É verdade que essa ventura tem um certo amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas, se não apresenta o forte sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; pelo contrário, tem uma penetrante suavidade, que encanta a alma.
A piedade, quando profundamente sentida, é amor; o amor é devotamento; o devotamento é o olvido de si mesmo; e esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela mesma que o divino Messias praticou em toda a sua vida, e ensinou na sua doutrina tão sublime.
Quando essa doutrina for devolvida a sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a terra feliz, fazendo reinar na sua face a concórdia, a paz e o amor.
O sentimento mais apropriado a vos fazer progredir, domando vosso egoísmo e vosso orgulho, aquele que dispõe vossa alma a humildade, a beneficência e ao amor do próximo, é a piedade, essa piedade que vos comove até as fibras mais íntimas, diante do sofrimento de vossos irmãos, que vos leva a estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia.
Jamais sufoqueis, portanto, em vossos corações, essa emoção celeste, nem façais como esses endurecidos egoístas que fogem dos aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a feliz existência.
Temei ficar indiferentes, quando puderdes ser uteis. A tranqüilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranqüilidade do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a corrupção.
Quando a piedade está longe, entretanto, de produzir a perturbação e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta! Não há duvida que a alma experimenta, ao contato da desgraça alheia, confrangendo-se, um estremecimento natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta penosamente.
Mas a compensação é grande, quando conseguis devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo umedecido de emoção e reconhecimento, se volta com doçura para vós, antes de se elevar ao céu, agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo.
A piedade é a melancólica, mas celeste precursora da caridade, esta primeira entre as virtudes, de que ela é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece.
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