Talvez por isso apressou o passo e, ainda que eu quisesse chamar, a palavra
desfaleceu na boca.
É possível que você suponha que eu desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje,
bati de porta em porta, em vão...
Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar o pão, como se a madureza
do corpo fosse condenação à inutilidade.
Outros, desconhecendo que vendi minha melhor roupa, para aliviar a esposa
enferma, me despediram apressados, crendo que fosse eu um vagabundo sem
profissão.
Não sei se você notou quando o guarda me arrancou da frente da vitrine, a
gritar palavras duras, como se eu fosse um malfeitor vulgar.
Contudo, acredite, nem me passou pela mente a idéia de furto. Apenas admirava
os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçar com fome, quando
retorno à casa.
Talvez tenha observado as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando que
eu fosse um bêbado, porque eu tremia, apoiado ao poste.
Afastaram-se todos com manifesto desprezo, mas não tive coragem de explicar que
não tomo qualquer alimentação há três dias.
A você, todavia, que me olhou sem medo, ouso rogar apoio e cooperação.
Agradeço a dádiva que me ofereça, em nome do Cristo, que dizemos amar, e peço
para que me restitua a esperança, a fim de que eu possa honrar com alegria o
dom de viver.
Para isso, basta que se aproxime de mim sem asco, para que eu saiba, apesar de
todo meu infortúnio, que ainda sou seu irmão.
***
Esta é a mensagem de um homem triste, quiçá como tantos que vemos perambulando
pelas ruas.
É bem verdade que alguns são de fato pessoas que se comprazem na ociosidade.
Todavia, há os desafortunados que, apesar de trabalhar a vida toda, não puderam
ajuntar moedas para o sustento próprio e da família e que, chegada a madureza,
são condenados pela sociedade a viver como réprobos, embora sejam pessoas
dignas.
É comum observarmos homens e mulheres puxando um carrinho de papéis e outros
objetos recicláveis, para prover o próprio sustento.
São nossos irmãos de caminhada evolutiva que não têm coragem de viver da
mendicância. Por isso trabalham com dignidade.
Muitos de nós, no entanto, nos enfadamos com essas criaturas que atrapalham o
trânsito com seus carrinhos indesejáveis.
O que não nos damos conta é que, além do peso do carrinho, têm ainda que
carregar sobre os ombros o peso da humilhação e do desprezo impostos por uma
sociedade indiferente.
É verdade que todos nós estamos colhendo o que plantamos, e que aqueles que
passam por essas situações precisam dessas experiências para crescerem
espiritualmente.
Entretanto, são nossos irmãos, filhos do mesmo Pai Criador e merecedores sem
dúvida, no mínimo, do nosso respeito.
Se não os podemos ajudar, que não os atrapalhemos jogando-lhes palavras amargas
nem menosprezando-os, dificultando ainda mais a sua caminhada.
Muitas pessoas que hoje vivem na miséria já foram pessoas muito ricas em outras
existências e vice-versa.
As Leis Divinas a todos nos reservam as lições que necessitamos para progredir.
E a lógica diz que aquele que é rico e esbanja sua fortuna em futilidades e em
proveito próprio, precisa passar por necessidades materiais para aprender a
valorizar os tesouros que Deus lhe empresta, a fim de que possa progredir.
Redação do Momento Espírita com base no cap. Mensagem do
homem triste, do Espírito Meimei, do livro Ideal espírita, de Espíritos
diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier,
2 comentários:
Eu sempre ouço essas mensagens na radio Ouro Verde!
Bom dia, Maria.
Essas pessoas que carregam pilhas de materiais recicláveis, são aos meus olhos, verdadeiros herois. Aqui perto mesmo, tem um senhor que, vive na rua com suas coisas e seus cachorros. Um dia desses choveu muito durante a noite e fiquei pensando nele, como ele estava se arrumando com toda aquela chuva...
São provas, duras. Me pergunto se houvesse no coração dos homens menos egoísmo se essas situações não diminuíriam.
Parabéns pela escolha do texto.
Abraços
Lúcia
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